No segundo dia, e último, nos Pirenéus, tivemos uma notícia extremamente positiva, ainda há muito Tour pela frente! Perante um certo ‘receio’ geral que se fazia sentir face à superioridade demonstrada por Jonas Vingegaard no dia anterior, neste dia vimos uma resposta positiva do maior rival, Tadej Pogacar.
Quanto à etapa, o dia começou muito ofensivo, como se esperava, com formação de um grupo inicial de fugitivos que acabaria por, efetivamente, ser parte da fuga do dia. Este conjunto contava com 10 elementos, essencialmente roladores, e poucos trepadores, entre os quais havia integrantes como Wout van Aert, Tobias Halland Johannessen ou Julian Alaphilippe.
Entretanto, Mathieu van der Poel, Matteo Trentin e Michal Kwiatkowski, e, posteriormente, Ruben Guerreiro (aniversariante), Anthony Perez, Neilson Powless, Kasper Asgreen e Oliver Naesen também se juntaram, aumentando o tamanho da fuga para 20 ciclistas.
No pelotão, a Bora impunha ritmo, entrando no jogo (taticamente perfeito) da Jumbo.
Na 1ª categoria, no Col d’Aspin, Wout van Aert assumiu a liderança do grupo, impondo um ritmo intenso, com a Jumbo a fazer o mesmo atrás, sinal de que o objetivo era ter o belga como corredor satélite e um ritmo alto para acabarem o que tinham começado no dia anterior, ganhar mais tempo a Tadej Pogacar, perante a fraqueza mostrada no dia anterior, caso contrário não teríamos visto van Aert a expor-se tanto na frente do grupo.
O cenário estava montado e parecia que íamos ter ritmo alto no Tourmalet, ataque no topo, ponte até van Aert, que iria trabalhar até ao limite, tanto no plano como na subida final, onde Vingegaard ia tentar fazer diferenças para os restantes, caso ainda seguissem consigo.
Todavia, na prática, a teoria é outra.
No início do Tourmalet, van Aert adotou a mesma estratégia, assumindo as rédeas do grupo.
Por sua vez, no pelotão, a Jumbo retomava a frente, com um ritmo alto.
Assim que van Baarle terminou o seu trabalho (a, sensivelmente, 4,5km do topo, e a 3’23’’ da frente), entrou Kelderman ao serviço, naquela que será uma das melhores exibições de um gregário nesta época. No espaço de 100 metros (!), dizimou um pelotão de 30 unidades, levando consigo apenas Kuss (claro), Vingegaard, Pogacar e Hindley. Mais 300 metros e o Maillot Jaune perdeu o contacto, enquanto, nesse curto espaço de tempo, tirou 44’’ à frente da corrida. Surreal. Trabalho feito, hora de Sepp Kuss.
O americano não destruiu Pogacar, mas lançou o colega de equipa, a 2km do topo e a 1’51’’ da frente, que seguia num ritmo sufocante de van Aert, restando apenas Guerreiro, Tobias, Kwiato e Shaw.
Com pouca lógica, no grupo do Maillot Jaune, era a UAE que perseguia os fugitivos.
No fim da subida, para os pontos, Ruben e Tobias sprintaram, com o português a dar um encosto ostensivo no adversário, que conquistou a pontuação máxima na mesma, e, por isso, perdeu 5 pontos dos que tinha conquistado pelo 2º lugar.
Atrás, o dinamarquês não se conseguia desfazer do esloveno, boas notícias, e passaram o topo a 33’’ da frente e com 1’59’’ sobre o grupo principal.
Van Aert descaiu para auxiliar o seu líder, que parecia estar a descer melhor que os restantes do grupo (Powless ficou aqui, depois de ser apanhado pelo duo aquando da contagem de montanha), Pogacar ia claramente desconfortável, o pulso parecia ser o motivo. Juntaram-se Wout a 42km do fim, momento em que o belga começou a trabalhar, apanhando os 4 fugitivos que seguiam na frente no fim da descida, a 27,5km do fim.
O pelotão estava a 1’59’’, com a INEOS (Bernal muito bem, foi positivo ver o colombiano a bom nível) a dar algum auxílio à Bora, que só tinha Buchmann a trabalhar, isto contra Wout van Aert.
No início da subida final, o grupo da frente tinha 2’40’’ sobre o pelotão.
O todo-o-terreno belga manteve-se a trabalhar até ao quilómetro 4,6 (com vantagem de 2’25’’), depois de afastar Powless, Guerreiro e Shaw. Nesse momento, Vingegaard tentou novo ataque, com nova resposta de Pogacar, descarregando Tobias, mas não Kwiato, que conseguiu agarrar-se aos melhores até ao quilómetro 3,8 do fim.
1km depois, Pogacar arrancou, parecia um ataque alimentado por fúria, deixou o dinamarquês sem reação e, apesar de uma gestão inicial, acabou por lhe ‘partir’ o motor, embora pouco.
No grupo dos (outros) favoritos, destacavam-se Hindley e Rodriguez (excelente prestação, mas ajudou demasiado o australiano) e, mais tarde, Simon Yates.
O duo da frente só se voltou a ver na meta, chegaram separados por 24’’, com Johannessen a fazer uma excelente subida, fazendo um 3º lugar histórico para a Uno-X (1’22’’), Guerreiro, belo dia do português em 4º e Shaw em 5º (2’06’’ e 2’15’’, respetivamente).
Hindley, que perde o Maillot Jaune para Jonas, foi o primeiro dos restantes, com Carlitos e Simon, tods a 2’39’’, com Adam a 3’11’’, e Bardet, Powless, Pidcock (de menos, no Tourmalet, a mais, na meta) e Gaudu a 3’12’’. Os derrotados do dia são Landa e O’Connor, outra vez, perdendo 3’41’’, Skjelmose (sofreu com problemas nas costas) perdeu 7’56’’ e Ciccone que perdeu 10’46’’.
A Jumbo não fez nada errado, sentiram ‘sangue na água’ e, como predadores, montaram uma estratégia exímia para dizimar a concorrência, mas apanharam um super Tadej.
Talvez, Jonas devesse ter pedido a Pogacar para passar na frente consigo, em vez de fazer o trabalho sozinho e expor-se a ataques, mas era imprevisível o estado de forma do esloveno.
Esta etapa só trouxe mais dúvida e interesse ao Tour.
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