Resumo da 4ª Etapa
- João Pedro Silva
- 9 de mai. de 2023
- 4 min de leitura
Atualizado: 27 de mai. de 2023
Depois da tempestade, vem a bonança. E um novo líder.
A etapa começou a todo o gás, como era previsível, tendo em conta o percurso, probabilidade de fuga vingar e táticas.
Começámos a etapa preocupados com o João, devido à queda do dia anterior, mas parecia estar suficientemente bem para não soar alarmes. A UAE apanhou um susto com uma quase queda de Vine, quando foi ao carro, mas acabou por se salvar.
Eram 175kms bastante difíceis, principalmente o início, o que antevia uma luta intensa pela fuga, pelotão partido e um pouco de caos. Até porque se presumia que ia ser a fuga a ganhar e haveria novo ciclista a utilizar a Maglia Rosa, o que gerou mais interesse em não ficar no pelotão.
Quanto à corrida, houve vários ataques a partir do início, com dificuldades para o pelotão em manter a sua coesão e ordem na corrida, e só se estabeleceu uma fuga a 100kms do fim, cerca de 75km depois do início da etapa.
Antes da fuga se estabelecer, ao quilómetro 38, sensivelmente, vimos cortes importantes na estrada, com Roglic na frente, enquanto Remco estava num grupo atrás, que fez a junção, pouco depois, graças à INEOS, mas não deixou de ser um susto. Contudo, ainda havia um grupo atrasado que tentava voltar à frente de corrida, onde constava João Almeida e Jay Vine. Prontamente, a UAE pôs se ao trabalho nesse momento, grande prestação de Formolo, e conseguiu corrigir o erro em 14kms
Até à formação efetiva da fuga, não houve muitos pontos de relevo.
Na fuga estavam Aurélien Paret-Peintre (AG2R Citroen Teams), Nicola Conci (Alpecin-Deceuninck), Vincenzo Albanese (EOLO-Kometa), Warren Barguil (Team Arkéa Samsic), Andreas Leknessund (Team DSM), Amanuel Ghebreigzabhier e Toms Skujins (Trek-Segafredo). O norueguês era o mais próximo na geral, a 1’40’’, com o letão a 2’10’’, o francês da AG2R a 2’13’’, e os italianos, da EOLO e Alpecin, respetivamente, a 2’17’’ e 2’47’’, o que significava que, dada a oportunidade, iria haver luta pela etapa e pela Maglia Rosa.
Todavia, eram muitos elementos com tempos próximos na CG, embora não constituíssem uma ameaça real a longo prazo, o que motivou, presumimos nós, a Quickstep a manter o ritmo alto, para que a vantagem, no fim do dia, fosse a suficiente para passar a liderança a outro ciclista, mas não o suficiente para ser arriscado, dado que Leknessund ou Paret-Peintre são bons trepadores e poderiam vender ‘cara’ a liderança. Mais, no caso do norueguês, é um bom contrarrelogista e muito combativo (veja-se a vitória na CG da Arctic Race of Norway).
Mas, na nossa opinião, quando ainda falta tanto tempo, e dureza, até ao final do Giro, seria preciso que ambos se transcendessem ao ponto de reterem a camisola até Roma. Portanto, seja esse o motivo ou não, foi pouco inteligente, digamos assim, da parte da equipa belga, manter a fuga em ‘cheque’ durante tanto tempo, devido ao desgaste que isso provocou nos seus gregários e no quão exposto ficou Remco na última subida.
A equipa do líder esteve sempre a controlar e a baixar o tempo da fuga, que nunca teve muito, diga-se, até que, a 45kms do fim, o tempo para os fugitivos voltou a aumentar, determinando que a vitória estaria na frente. Quanto à liderança, essa, ainda estava na dúvida.
Na frente da corrida, os ataques começaram a 7,2km do fim, por Conci, seguido por Skujins, enquanto Barguil se afundava. Atrás, Albanese perseguia, com Leknessund, Ghebreigzabhier e Paret-Peintre à boleia. Rapidamente apanharam e ultrapassaram Conci.
Leknessund atacou a 5,7km do fim, com os homens da AG2R e da Trek a seguirem. Albanese e Skujins ficaram juntos. Houve uma tentativa de ataque do eritreu a 5,2km, mas facilmente respondido e, 700metros depois, em nova aceleração do ciclista da DSM, ficou em dificuldades e não voltou a conseguir encostar.
De seguida, continuava interessante a luta na frente pela Maglia Rosa e a etapa, quando o francês que restava na frente foi distanciado, encostando apenas na parte mais ‘fácil’ da subida.
A 2,3kms do fim, era a descer ou plano até à meta, Leknessund não quis, ou não conseguiu, passar na frente, Paret- Peintre reclamou com o adversário, dado que o interesse era dele, se não colaborasse arriscava-se a perder a hipótese de utilizar a mítica camisola de líder. Até ao fim, resolveram as suas diferenças e o francês bateu o norueguês, com facilidade, ao sprint.
No grupo dos favoritos, a INEOS assumiu a liderança do grupo a meio da subida, mas que pouco ou nenhum efeito teve e, na verdade, também não comportou muita lógica. Se o propósito era obrigar Remco a manter-se na Rosa, falharam e deviam ter começado no início da subida, se era ‘sacudir’ os gregários de Remco, correu bem, mas não aproveitaram isso, possivelmente, terá sido manter um ritmo alto o suficiente para não surgirem ataques, dado que G Thomas não se encontra, ainda, na melhor condição física, e, assim, protegeram-no de quaisquer debilidades que pudesse mostrar, caso houvesse ataques.
Pessoalmente, julgo que alguém deveria ter atacado, para ver as condições físicas dos adversários (como João, face às dores que poderia ter), foi um dia duro e alguém poderia ter-se ressentido. Principalmente, Arensman e/ou Sivakov, dado que ambos estão atrasados e podiam recuperar alguns segundos que os tornassem uma ameaça um pouco mais real do que (não) são neste momento. Podia haver resposta e um contra-ataque de alguém e a estratégia sair pessimamente mal, mas, tendo em conta a corrida que foi e o final que era, se havia momento para tentar era este.
Porém, são teorias. Nem tudo corre da maneira que achamos e, no sofá, tudo parece mais fácil.
Em suma, nenhum dos favoritos perdeu tempo (apenas Van Wilder, que, não sendo favorito ou sequer candidato, é um fiel gregário de Remco, e esta prestação hoje pode ser preocupante para a equipa belga, mas há tempo para recuperar até aos momentos mais decisivos do Giro), Leknessund subiu ao primeiro lugar, com 28 segundos de vantagem para Remco e 30 para o seu companheiro de fuga, Paret-Peintre.
Amanhã há mais!


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