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Vuelta Femenina 2023

A primeira Grande Volta feminina terminou com espetáculo, dúvida, alegria e desilusão.


Como não sabemos por onde começar, deixamos uma amostra: a vencedora teve apenas uma vantagem de 9 segundos para o segundo posto.

As candidatas à vitória geral eram a Rainha das Ardenas, que completou a tripla histórica este ano Demi Vollering (SD Worx) e Annemiek Van Vleuten (Movistar, a campeã mundial e vencedora das três grandes no ano passado). Atrás delas, podíamos falar de Liane Lippert (Movistar), Gaia Realini (Trek-Segafredo), Kasia Niewiadoma (Canyon//SRAM), Mavi García (Liv Racing), Juliette Labous (DSM), Marta Cavalli (FDJ–SUEZ, uma das melhores trepadoras do pelotão, mas com inseguranças desde que foi ‘atropelada’ por uma colega de profissão no Tour 2022), todas estas eram nomes interessantes para o top5.

Eventualmente, e como o pelotão feminino é imprevisível, teríamos de estar atentos a Évita Muzic (FDJ-SUEZ), Silvia Persico e Erica Magnaldi (UAE), Elise Chabbey e Ricarda Bauernfeind (Canyon//SRAM), Riejanne Markus (Jumbo-Visma), Niamh Fisher-Black (SD Worx) e Amanda Spratt (Trek-Segafredo).

Esta variedade de opções surge perante a dúvida do estado de forma de várias ciclistas, uniformidade de talento, táticas (costuma haver mais jogo tático do que no pelotão masculino) e, sendo uma corrida de apenas uma semana, há mais espaço para surpresas, por não ser tão difícil defender a posição, e ventos laterais, que eram previsíveis em várias etapas.

À partida estavam presentes 4 atletas portuguesas, Daniela Campos (campeã nacional, Bizkaia Durango), Mariana Libano (Soltec Team), Beatriz Roxo (Cantabria Deporte-Rio Miera) e Vera Vilaça (Massi-Tactic Women Team).

Infelizmente, Vera Vilaça foi a única que conseguiu terminar a Vuelta, e ainda andou em fuga, por alguns quilómetros, na etapa 4.

Uma nota de relevo, esta corrida foi marcada, em quase todas as etapas, por uma transmissão tardia.



Etapa 1

Tudo começou com um contrarrelógio por equipas, onde a Jumbo-Visma garantiu a sua primeira vitória da época (fenómeno estranho, assim como a ausência de vitórias da estrela da Movistar, Annemiek Van Vleuten).

A equipa vencedora não tinha candidata à vitória final, mas apostavam na campeã holandesa, Riejanne Markus, para o top10, e nesta etapa ajudaram-na a conseguir menos um segundo que as rivais da Canyon//SRAM Racing, menos 9 que a Trek-Segafredo, 12 para a Movistar e 14 para a SD Worx. Todas as outras ficaram acima dos 25 segundos.



Etapa 2

Foi uma etapa movimentada, apesar de ser presumível que fosse terminar ao sprint. Houve ventos cruzados, quedas e ataques, mas, no final, as favoritas chegaram juntas, com Charlotte Kool a bater a lenda Marianne Vos pela etapa, sendo que a GOAT (Greatest Of All Time – Melhor de todos os tempos), por via das bonificações, assumiu a camisola vermelha, que simboliza a líder da classificação geral.


Etapa 3

Foi um dos dias mais caóticos, onde as ciclistas chegaram 1h15 (algo à volta destes valores) antes do previsto. E já se tinha tido em consideração a probabilidade de ser uma etapa rápida.

Por isso, a transmissão começou a 27,5km do fim, tornando impossível qualquer ilação do que se tinha passado anteriormente. Todavia, há sites que nos permitem acompanhar a evolução da corrida em formato de texto, o que nos indicava que Gaia Realini tinha ficado para trás devido aos ventos laterais, os echelons, a 92km da meta. A 53km da meta a DSM pressionou na frente do pelotão e criou mais cortes, restando apenas 27 ciclistas no grupo 1.

Aparentemente, Mavi García, pouco antes da transmissão começar, tinha conseguido regressar ao grupo principal, onde estava a maioria das favoritas. Annemiek Van Vleuten também se viu em apuros quando, à passagem do quilómetro 30 (e há imagens deste momento), falhou a receção de três bidons de abastecimento, agarrando o quarto e quase atropelando o auxiliar da equipa da Jayco AlUla, o que lhe valeu uns metros de afastamento do grupo da frente, que ia a uma velocidade alta e ainda sofria com algum vento. Sofreu, mas conseguiu encostar outra vez. Uma nota de destaque para o fair play dos soigneurs das equipas (difícil de identificar que equipas eram em concreto) que tentaram ajudar a campeã do mundo. Acabou por ficar com uma garrafa da equipa da Israel Premier Tech Roland. Também é destes momentos que se faz o ciclismo.

Até ao final, apenas referir a queda da Daniela Campos a 4,4km da meta quando seguia no grupo 2, o que impossibilitou que continuasse na Vuelta, mesmo terminando esta etapa de forma notável dada a lesão que teve.

O sprint do grupo reduzido não ia deixar de ser interessante, dado que as duas principais candidatas a estas chegadas se encontravam aqui, Vos e Kool. Desta vez, a veterana da Jumbo-Visma levou a melhor face à jovem da DSM.

Nas derrotadas do dia constavam Ricarda Bauernfeind, Évita Muzic e Silvia Persico com 1.32 minutos. Mais longe, a 2.41 minutos, chegaram Amanda Spratt, Gaia Realini e Marta Cavalli.


Etapa 4

Esta etapa teve um início com poucas situações de relevo, destacando apenas a desistência de Kool, a 37km da meta, estando, salvo erro, já distanciada da frente da corrida (que ia disputar a etapa) nesta fase. De qualquer das formas, parecia ser uma etapa demasiado dura para a sprinter.

A 16km da meta, enfrentaram uma subida de 4km a 4,7% (Alto de Horche), passível de criar distâncias, o que não sucedeu, dado que Cavalli foi a única das favoritas a ser distanciada. Após a transposição da dificuldade, surgiram ataques de praticamente todas as intervenientes, exceto Vos, que aguardava pelo desfecho ao sprint. Faltavam 6,2km quando Lippert respondeu a um ataque de Bauernfeind, que já não conseguiu seguir com a conterrânea, e Vollering fez a ponte, mas só andaram escapadas 4km, o que suscitou novos ataques, que foram prontamente anulados por Riejanne Markus.

Aparentava que iria terminar ao sprint para nova vitória de Vos, até que Reusser arrancou numa rotunda a 500 metros da meta, apenas para ser apanhada por um sprint fantástico de Vos, tendo de se contentar com o 3º lugar, ficando o 2º para Emma Norsgaard.

3ª vitória para a Jumbo-Visma em 4 dias e perda de 2.44 minutos para Cavalli.


Etapa 5

O primeiro desafio real para as senhoras da geral.

Os únicos pontos de interesse era a perseguição do grupo 2 ao grupo 1. No segundo grupo estavam todos os elementos da Movistar, sem contar com AVV, que estava na frente, além da camisola vermelha, Marianne Vos. Uma vez mais, não houve acesso a imagens antes de o estrago já estar feito.

A 36km da meta houve uma queda polémica, entre Niamh Fisher-Black e Ane Santesteban, pois, a ciclista da SD Worx, foi prejudicada face ao que é habitual nestas situações. Ou seja, seria expectável que o comissário permitisse que as ciclistas prejudicadas beneficiassem do comboio de carros que se encontrava à frente delas para regressar ao grupo onde estavam, contudo, isso só aconteceu para a espanhola da Jayco AlUla, enquanto, a neo-zelandesa teve de fazê-lo sozinha e, evidentemente, não voltou a encostar no grupo principal.

A chave da etapa estava na subida final, eram 4,6km a 7,1% (Mirador de Peñas Llanas). Progressivamente, começou a haver quebras, muito graças ao ritmo de Vollering (ao seu estilo), restando apenas um grupo reduzido de cerca de 10 ciclistas à entrada do último quilómetro. Nesse momento, nova aceleração da Rainha das Ardenas deixou apenas Bauernfeind e AVV na sua roda, e a sofrer muito, com Muzic a fazer um grande esforço para colar neste grupo de luxo, e a conseguir, enquanto Realini, não encostando, manteve-se perto do quarteto.

Surgiu o ataque da campeã do mundo, a 400 metros, que só serviu para afastar definitivamente a ciclista da FDJ, e a reposta final de Vollering meteu o “pé a fundo” nos últimos 300 metros e criou uma separação curta, mas importante, junto à meta.


As separações na meta, quanto ao top 10 foram:














Etapa 6

Mais um festival de ventos cruzados sem transmissão.

A animação (e polémica) começou cedo, com apenas 30km percorridos. A equipa da SD Workx fez uma pausa para necessidades fisiológicas no momento errado. E, segundo algumas fontes, a isto acresce um problema mecânico (não sendo claro em que momento ocorreu, nem a quem).

Faltavam 70kms para o fim e a SD Worx, pelo que se sabe, entrou em pânico e imprimiu um ritmo forte atrás para tentar fechar o espaço, todavia, na frente, havia duas equipas a colaborar: a Jumbo-Visma e a Movistar.

Desta fase, e até aos 48kms finais (quando tivemos imagens da corrida), houve uma perseguição que custou à líder da corrida, a sua equipa, restando apenas Blanka Vas, a campeã húngara, e Fisher-Black. Logo depois, a (ainda) camisola vermelha assumiu a frente do grupo, reduzindo-o a três (no grupo principal, AVV também começava a meter ritmo), dado que a húngara não conseguiu acompanhar as colegas e a neo-zelandesa segurava-se à roda da outra resistente, Bauernfeind.

A 45km da meta, a última colega da líder começou a ser distanciada. Pelo caminho, Vollering ia apanhando e eliminando outras ciclistas. Na frente, a campeã do mundo, destruía a fuga.

Um dos (vários) erros da SD Worx foi não ter ordenado a Reusser, que andava no grupo 1, descer para ajudar a reduzir o tempo para AVV, e também fazer descansar Vollering.

Enquanto AVV sprintava para o sprint intermédio e se distanciava das 4 ciclistas que vinham no grupo, atrás, a Canyon começava a oferecer ajuda, embora brevemente. Realini foi a única a conseguir fazer a ponte, e no momento certo, para a fugitiva.

Magnaldi, Muzic e Labous estavam como grupo intermédio.

Começaram a última dificuldade do dia, com 7,6km a 4,8%, com uma ligeira descida na primeira metade da subida, com 30 segundos de vantagem para o grupo intermédio e cerca de 1 minuto e 50 segundos para o grupo atrasado. No fim da subida, tinham mais 10 segundos no segundo grupo (que acabou por ceder e ser apanhado pelo grupo que vinha atrás) e menos 10 no grupo 3.

Com Reusser (finalmente), Jumbo-Visma e Canyon a perseguir nos últimos 12kms finais, a vantagem do duo da frente começou a reduzir.

A vitória decidiu-se num sprint relativamente previsível, dado que Realini não passou uma vez na frente, taticamente foi a decisão certa, era AVV a principal beneficiada com a situação.

No último quilómetro, também a FDJ deu um contributo, fixando a desvantagem para 1 minuto e quatro segundos.

Importa destacar a exibição de luxo das holandesas que disputavam a CG. AVV a trabalhar durante os últimos 50km, praticamente, e isto sem qualquer ajuda. Também impressiona o feito de Vollering que, sendo apanhada em contrapé e uma tática dúbia (ao não chamarem Reusser mais cedo), andou, também, os últimos 50km no mesmo esforço, ter sido ajudada nos últimos 10km não apaga, em nada, o que fez. Impressionam pela gestão de esforço e a potência de ambas as atletas. Soberbo.


Quanto aos resultados da etapa (e CG):











Etapa 7

A etapa decisiva.

A líder da SD Worx precisava de recuperar 1’11’’ à compatriota e era expectável que deixasse tudo na estrada para alcançar a vitória final. A cobertura televisiva iniciou-se a 45km do fim, e o corte decisivo tinha surgido 9km antes, com 18 ciclistas na frente, provocado pela SD Worx, mas AVV constava nesse grupo, portanto, não tinham afastado a líder.

Niewiadoma atacou a 39km da meta, sendo seguida por Reusser, enquanto, atrás, AVV não esboçava uma resposta, alargando a distância para a frente, o que permitiu que as suas colegas da Movistar regressassem e metessem ritmo, anulando a tentativa a 16km do fim, antecipando-se ao início da subida aos Lagos de Covadonga.

O primeiro ataque de Vollering surgiu a 9,9km do fim, mantendo, na sua roda, 7 ciclistas. Iniciou nova tentativa, desta vez, apenas 3 seguiram: Realini, Muzic e AVV. A 7,3km do fim, a francesa fica para trás. A italiana teve um susto, com um problema mecânico, a 6,5km, recuperando logo depois. Mostrou a sua boa forma ao atacar a 5,6km, eliminando AVV 300 metros mais tarde. Isto significava o início do braço de ferro entre a líder da corrida e a candidata à liderança.

Numa luta intensa, era visível o aumento gradual da diferença entre ambas, com Realini a beneficiar, teoricamente, desta disputa, indo ‘apenas’ na roda, o que também custa, mas podia permitir-lhe chegar um pouco melhor ao fim, para tentar nova vitória.

À entrada do último quilómetro, Vollering tinha 49’’ de vantagem, precisando de ganhar 16 segundos extra na última parte da subida (antes do início do quilómetro final havia uma descida, que conduzia à última inclinação da prova, com cerca de 500metros), isto contando com os segundos de bonificação que Vollering teria com o 1º lugar (10’’) e AVV com o 3º (4’’). Nessa curta descida, a holandesa, que procurava estender a vantagem, deixou Realini para trás, ganhando-lhe 11 segundos na meta.

Seria um prenúncio do podia acontecer com a (ainda) líder?

Estava montado um cenário épico. Vollering fez o que lhe competia, ganhou a etapa, deixou tudo na estrada, estava sentada, em sofrimento, a olhar para a meta e para o cronómetro, e, do meio do nevoeiro, surgia o estilo característico de Van Vleuten, 48’’ segundos depois da conterrânea, quando ainda lhe faltava percorrer 30 metros.

Esses metros pareciam intermináveis para a campeã do mundo e demasiado rápidos para a rainha das clássicas.

No final, foi a veteraníssima (que este ano terminará a carreira, em princípio) a levar a melhor. Chegou a 56’’, batendo a rival por uns escassos 9 segundos.


Um final digno da classe e nível das atletas.


Quanto à CG, Realini subiu 9 lugares, alcançando o pódio, Bauerfeind e Muzic viram os seus esforços recompensados, subindo 5 lugares, passaram a ser 5ª e 6ª, respetivamente, com as maiores derrotadas do dia a serem a suíça da SD Worx, Reusser, caiu 18 lugares, 5º para 23º, e a canadiana Baril, que desceu 13 lugares, 6º ao 19º.


No fim, a CG ficou:












A classificação dos pontos ficou para Marianne Vos e a Rainha da montanha para Gaia Realini.
















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